Cristiano, a Bola de Ouro também é nossa!

Uau!
É dele, é sim senhor, a terceira, de ouro, não de prata nem de casca de batata, mas esta, que brilha, que ofusca, tal como já a foi a anterior, também é um bocadinho nossa, de todos nós, seus conterrâneos, dizendo com a liberdade que tenho para falar p’los que se importam e também por todos aqueles que nem sequer querem tão pouco saber, por todos, p’los Joões, p’las Marias, as Anas e os Zés; p’los Ricardos, p’las Sofias, p’los que chutam com a direita, que preferem a esquerda e também por todos aqueles que não têm lá muito jeito com a bola nos pés.

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Por Todos! Porque todos eles têm uma coisa para lhe/te dizer; todos eles gostavam que ouvisse(s) uma coisa tão simples, dita por todos os que aqui vivemos e que nos últimos 7 anos nos habituámos a chegar a esta segunda segunda-feira de janeiro e sentir uma ligeira ansiedade, misturada ao de leve com uma vontade que quase chega a entorpecer as pernas de poder dizer que o melhor do mundo, foi, é e continua a ser português.
Bem sei que nesta altura lá se erguem as já habituais e sempre lamuriosas vozes tristes do desdém e da inveja (sentimentos que abomino, confesso), de quem de nada gosta e de tudo diz mal, mas, até mesmo desses é este prémio, justo, merecido, incontestado, reconhecido em toda a sua universalidade.
Ora, perante… isso… queremos dizer-lhe/te apenas… isto:
“És! És mesmo! E continuas a ser! E se fosses empresário, professor, médico, juíz, advogado, jornalista ou outra coisa qualquer… provavelmente também o serias”
Dedicas-te. Melhoras. Pensas exaustivamente no que podes fazer para seres cada vez melhor e mais completo. Traças metas. Defines estratégias. Preparas-te. Treinas. Repetes. Uma e outra e mais outra vez. Até à exaustão que pareces não conhecer, como se te tivesse sido dado por obra Divina uma capacidade inalcançável aos outros de nós, a capacidade inacreditável de não te cansares, de não te fartares, de não te contentares com 3 golos e quereres chegar ao quarto. E fazes tudo isto até conseguires chegar o mais perto possível do praticamente impossível. E desculpem-me mas tudo isto que o homem faz tem de ser louvado e glorificado pelo teu patrão, o senhor dos óculos que te paga o ordenado que recebes no fim do mês.
Não me interessa minimamente que ganhes num mês o suficiente para que eu tivesse uma vida inteira sem preocupações. É teu, trabalhas para isso, e a empresa onde trabalhas reconhece a tua individualidade e premeia-te por isso, como tal, não haverá nunca nada a dizer, a invejar, a indagar, a criticar, a apontar.

Tornaste-te no exemplo para todos os que trabalham contigo, pela abnegação, pela capacidade de luta, pela vontade absoluta e absurda de ganhar, sempre, de querer sempre mais e mais e mais, pela voracidade animal do teu apetite pelo golo, pelo sucesso, pela vontade incomparável de seres o melhor dos melhores, o maior dos maiores. De seres o número 1 ou mesmo pela vontade que dás aos outros de que quase se equacione de se criar um número só para te destacar ainda mais dos teus semelhantes. O teu número.
Não para te fazer Deus, não para te colocar acima dos homens, dos outros homens de quem és irmão, primo, filho, tio, pai, amigo, colega, companheiro, ou simplesmente ídolo, mas sim para destacar alguém que, como já disse acima, se esforça para ser sempre mais. Alguém que nunca descansa à sombra do sucesso que alcançou…
Desculpa, tens mesmo a certeza que és português, Cris?
Já escreveu tanto sobre ti que tenho a certeza que não vou acrescentar grande coisa, nem sequer é a isso que me venho aqui prestar, mas pelo menos acho que nunca ninguém te tentou dizer tudo isto, nunca ninguém tento dizer-te aquilo que todos, praticamente sem excepção, temos em ti um orgulho orgulhosamente assumido, por ti,uma bandeira da nossa “terra”, que, cada vez mais, defendemos com punhos cerrados e cara feia.

JONATHAN NACKSTRAND/AFP
JONATHAN NACKSTRAND/AFP

És admirado pelos teus adversários, que te reconhecem a grandeza, que te elogiam a determinação, a capacidade de superação, que se curvam perante a eficácia da máquina que foste criando ao longo do tempo neste nosso tempo tantas vezes tão cinzento e quezilento.
És daqui, daqui mesmo!
E se isso é assinalável em campos como a ciência, a arte (seja lá ela qual), a literatura, tem de o ser também nesta tua arte, a arte de fazer o impossível com uma bola de futebol. E, mais do que isso, de ser o melhor nessa mesma arte. De ser indiscutivelmente o melhor.
De saber que há cada vez mais e mais gente que sabe onde é Portugal, gente que sabe o que temos, que ouve falar da forma amiga e meiga como recebemos, como comemos e bebemos, gente que mais e mais vai sabendo que este é um país lindo, apetecível, agradável, baratinho, com bastante solinho e que tem na sua Gente o seu maior, mais valorável e mais valioso pergaminho.
E tu és daqui, da nossa linda e tão florida ilha. Da Madeira, pois claro.

Dizia que és daqui, do país da cortiça, do vinho e do mar, das ondas, das serras, do sol e da sua estrondosa luz que veste as ruas e as praças e que nos envolve sedutoramente a pele como se nos polvilhasse de vida e de simplicidade e nos aquecesse a alma com uma ternura e uma meiguice que apaixona. O sol magnífico, o astro maior que, fruto do capricho da posição em que o planeta se encontra quis que assim o recebêssemos.
E se conseguisses ao menos ter uma noção exacta de tudo aquilo que tento dizer-te, que queremos e tentamos todos que saibas…
Hoje, ao contrário da última vez, falo-te como se tivesse estado à conversa com o país inteiro no café da minha rua que ainda não o tem.
Havia de ser bonito estar “na treta” com 10 milhões de pessoas no café que a minha rua há-de ter, a falar de ti e dos teus golos, dos livres, das cabeçadas, das impressionantes cavalgadas e fintas inventadas nas nesgas de chão verde que os teus pisam sorrindo com a felicidade de quem faz o que mais gosta e melhor sabe.
Isso é que era… um café do tamanho do teu estádio. E digo-te mais, tenho a certeza que haveria de estar sempre à pinha, ao barrote, a abarrotar, cheio atè à porta e cá fora teria de haver esplanadas com quilómetros e quilómetros e uma praça colossal.
Tenho de confessar que me quis antecipar e comecei a escrever tudo isto a 24 horas de confirmar a tua vitória, mas, porque te conheço a corrida de memória, a sede saudável de glória, não foi fácil ir andando e esperar apenas que se apresentasse diante de mim, bem vestida e engomada, a hora de levantares a sacana da bola e agora… aqui estou, no trabalho, sentado, meio especado, com aquela sensação que odeio, a da espera, de auscultadores nos ouvidos, olhos ora no ecrã, ora na televisão que tenho na minha frente anichada junto ao tecto e que, tal como, eu, parece ansiosa por me dar a novidade, por me dizer que és tu sim.
Pronto, já estão a dar os prémios às meninas, já falta pouco. Caramba… há prémios para as meninas! Mas quando eu era miúdo dizia-se que o futebol não era para meninas… como os tempos mudam.

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Pronto, é agora.
Somos para aí uns dez, todos de pé, alinhados em frente ao televisor, lá vem o Henry (que grande jogador aí tens ao teu lado hein!? Mas olho aberto que ele é amigo do Messi…), é ele que traz o envelope na mão. Vai agora abri-lo, está a abrir, não me parece muito contente… Pela cara dele… já ganhaste, de certeza, já está!!!
JÁ ESTÁ!! GANHASTE! É tua Cris, é tua, é tua e é Nossa!! Bravo! E sabe ainda melhor porque todos nós que te conhecemos sabemos o quanto gostas desta bola dourada, quase tanto como a bola com que brincas dia após dia, ano após ano.
Buhhhhhhh!! disseste tu, em alto e bom som para que todos saibam de onde vens, onde estás e para onde vais.
Só pararás quando tiveres quatro, tal como tem o Messi, porque, como disseste por esta altura há um ano, queres ser o melhor de sempre, de todos os tempos e deixar que isso assim fique e assim seja durante muitos, largos e bons anos. No que a nós nos diz respeito, continua, não baixes os braços porque temos a absoluta certeza de que haverás de lá chegar.

Obrigado Cristiano Ronaldo, por seres português, por falares português, por jogares por Portugal, por seres um dos castelos na .
Vá lá, vá lá, para nós por cá, nem tudo está assim tão mal.

Artigo primeiramente publicado no site http://www.reportersombra.com

Presentemente presenciando o que assim se apresenta

Presentemente presenciando o que assim se apresenta

O presente – sem papel de embrulho – e tudo aquilo que desejávamos nunca ter visto com estes mesmos olhos tristes com que vamos olhando para uns e para os outros, mais para uns do que para outros, é hoje uma convulsão ininterrupta de atropelos, desrespeitos, mentiras, enganos, desenganos, desonestidades e tantas outras atrocidades, diariamente expressas em assumidos e sinceros laivos de selvajaria, mordidelas venenosas e assomos de prepotência que, mais do que roçar, se esparramam na lama porca em que dorme a falta de educação. Há, com excepção da altura do Natal, um ausência total de Compaixão, de solidariedade entre os homens, e isso é assustador, é mesmo, pelo menos a mim, que já não sou nenhum menino, assusta-me, assusta-me que o homem não saiba, ou não queira, ou que pura e simplesmente não consiga ser mais do que isto.
Bem sei que são palavras caras, e grandes, que, e sobretudo que se tratam de palavras, de verdade. Vocábulos emparelhados com algum sentido.
E é isso que descompõe o arranjo.
Ah, Realidade!
Sacana, tu que foste esculpida a crédito e te apoiaste na pobreza de tantos e tantos mais, e que os usaste depois para sustentar a riqueza infeliz e vazia de tão poucos, daqueles de quem se diz que: “prosperaram”, à custa de coisas que… que sabemos nós quais, tu que assistes, aqui e ali, ao inegável esvaziar do que falta dos remendos dos bolsos das calças, dos casacos, até dos cordões gastos dos sapatos, também eles manifestamente desgastados pelas unhas que os esgravatam inconformadas e impiedosas, tanto aos bolsos como aos sapatos, diz-nos: – Que queres tu da gente boa?
Que esperas tu que A Gente faça?
É que isto, a continuar assim, é uma desgraça e sobretudo não tem lá muita graça.
É tudo, sim?
Adeuzinho,
Passar bem.
Para si também.
És tu.
És tu também.

Pequeno ensaio sobre a Compaixão… ou não

Pequeno ensaio sobre a Compaixão… ou não

Vou começar pelo fim.

Espero, do fundo quente do meu coração, que o Natal tenha sido santo e feliz, repleto de reencontros, de reconsiderações, reuniões, jantares, copos cheios e gargalhadas aos trambolhões. Espero igualmente que se tenham reunido em família, ou simplesmente que se tenham prostrado no sossego impenetrável dos vossos lares e no conforto quente dos sofás, mas que tenham, acima de tudo, tido uma agradável noite de Natal. Posto isto vamos ao que aqui me traz:

Pergunto-me se na noite de Natal, sim, nessa precisa e santificada noite, tiveram a decência de se recolherem, ainda que por pouco tempo (que ninguém está à espera que agora se tenham convertido em fervorosos pensadores, ou em sociopatas insuportáveis), com os vossos pensamentos. Sim, que o Natal é para estar com a família e não para se porem com meditações budistas, nada disso. Mas… o que vos pergunto é tão simples quanto isto: Tiveram, ou não a hombridade de se recolherem, durante alguns minutos com os vossos pensamentos? Cinco minutos imberbes que tenham sido, a fim de repensarem tudo o que foi o ano que agora termina e para tentarem adivinhar alguma coisa que vos possa calhar em sorte no novo ano que se aproxima, tiveram? Ai não? Posso ao menos perguntar-vos… porquê?

Permitam-me desde já sossegar-vos e assegurar-vos que não estou aqui para julgar seja quem for, até porque, como já deu para perceber, um tipo que escreve um texto destes e tem o descaramento de atirar perguntas para o ar e falar como se de facto alguém lhe estivesse a responder, não tem grande legitimidade para julgar quem quer que seja, mas, ainda assim, atrevo-me a perguntar uma vez mais: Porquê?

Salvo aqueles que tenham de facto uma boa razão, que justificação têm para não o terem feito? O que vos impediu de se recolherem, sozinhos, em solilóquios mentais de curta duração, em flashbacks de 2014 a pedido, a fim de pensarem um pouco… nos outros, nos que não tiveram ceia de Natal, nos que não tiveram prendas, chocolates, Bolo Rei ou Rainha, ou filhoses da vizinha. Nos que não tiveram os pais por perto no Natal, em todos aqueles para quem esta é, de longe, a mais triste das quadras, a mais vil das épocas, a mais estúpida das festas? Qual foi, então, o motivo?

MM_pequenoensaiosobreacompaixaoounao_3 Pois, tal como eu calculava, nenhum. Por razão alguma não existe razão ou explicação, pois não? Estão por aí ainda? Ainda não vos fiz arrepiar caminho, pegar  no rato, ou alçar do dedo para irem ler as missas do padre de outra freguesia, fartinhos que já devem estar deste começo de sermão a atirar para o ofensivo?  Não?

 Tanto pior…

 Ora, assim sendo e passado este primeiro foco inicial de perturbação, desafio-vos a algo que pode dar que fazer. Num papel, numa agenda, nas notas do  telemóvel, em folhas de papel higiénico, onde quiserem, onde vos der mais jeito, prazer, adiante… escrevam um e um só objectivo de cariz social para 2015 que não tenha sido alcançado em 2014, mesmo que a ele se tenham proposto. Vá lá, não custa nada. Sim, já percebi que não estou a ser muito específico e que ando para aqui em circunlóquios apatetados, que acabam por vos levar a nenhum lado (bem diferente de não levar a lado nenhum), sem que pelo caminho consigam perceber a natureza de toda esta retórica. Então, vamos por partes:

1º – O Natal tem uma capacidade que não se encontra em mais nenhuma outra época festiva do ano, que é a capacidade de agregação;

2º – Toda esta quadra embrulha o ser humano, regra geral (porque há sempre a excepção que confirma a regra), num papel suave e sedoso que o torna mais macio, mais doce, mais atento, mais carinhoso, mais amigo, mais familiar, mais bondoso e generoso, mais tudo;

3º – É a época da COMPAIXÃO por excelência, por inerência. E é mesmo por aqui que vou. Vamos? Então vá…

Atrevo-me a fazer-vos mais uma pergunta. Desta vez prometo ser menos invasivo. Ora então, aquilo que vos quero perguntar é então o seguinte: Qual o primeiro significado que vos ocorre, quando ouvem, ou simplesmente pensam na palavra compaixão? (Tenham calma! Um de cada vez e ponham o dedo no ar)

Para não fugir ao habitual, tive de responder à minha própria pergunta. Se orgulhosa e desavergonhadamente falo sozinho, não será de todo inusitado que coloque perguntas e lhes responda de seguida. Faz parte do manual de sobrevivência de qualquer tipo minimamente “avariado”. Para mim foi assim bastante fácil. Pena, isso mesmo, foi precisamente essa a palavra que quase de imediato começou a saltitar aos gritos na mente. Nem mais, nem menos. De facto, quando comecei a aperceber-me das respostas que me davam alguns dos amigos a quem fiz a mesmíssima pergunta, vi que estas eram bastante diferentes da minha Pena.

Três pessoas usaram a palavra Amor como primeiro e imediato sinónimo para compaixão. Outras três disseram, Perdão. Duas apontaram para Solidariedade e outras tantas para Simpatia. E seguiram-se respostas tão distintas como Caridade, Empatia, Entrega, Carinho, Dor, Piedade, Indiferença, Crescimento, Maturidade, Outro, Dedicação, Respeito, Entreajuda e Amizade. Ninguém pensou instintivamente em Pena. Enfim… é pena. Esperei para ver se aparecia algum amigo, ou amiga a referir a mesma palavra, mas nada, zero. De facto é pena, porque tenho pena de não poder perguntar a essa pessoa: Pena? Porquê Pena?

MM_pequenoensaiosobreacompaixaoounao_2 Porque a minha resposta é tão simples e falível quanto isto: Compaixão parece ser hoje mais do que o substantivo que atabalhoadamente a enjaula. Começa  por ser uma palavra que parece poder ser apenas explicada através de exemplos que apontam sempre para acções para com uma pessoa, ou um grupo de  pessoas. Acções palpáveis, visíveis.

 Logo por aqui se vê e mede a complexidade da palavra que estamos a tentar humildemente analisar.

 Na verdade, não poucas vezes nos deparamos com palavras que são bem maiores do que o redutor número de letras que as compõem. Compaixão é uma dessas palavras justificadamente grandiosas, tão grandes que são capazes de provocar nas pessoas uma confusão enorme quando lhes perguntamos directamente o que é, ou pior, quando as entalamos entre a conhecida e maquiavélica representação metafórica da espada e da parede e lhes pedimos que nos digam um sinónimo de forma quase instintiva para a palavra em questão.

Não. Não sou ou tenho a pretensão de ser sábio, ou qualquer coisa que o valha e, volto a sublinhar, que não estou nem vou julgar a opinião de ninguém, porque, na verdade, o conceito sobre o qual estou para aqui a dissertar correndo o sério risco de vos maçar é, de facto, um conceito que só existe debaixo do pressuposto social em que estamos irremediavelmente inseridos. É absolutamente imperativo e simultaneamente fantástico que assim seja.

É notável que possa pedir ajuda aos meus amigos para conseguir terminar este texto e que os mesmos se prontifiquem, via Facebook (esse “monstro” que alegadamente “desvirtua” as relações sociais), a responder-me de imediato, para me manifestarem o que pensam e entendem por compaixão, tendo eles próprios, talvez até de forma inconsciente, dado uma demonstração cabal do que pode ser a compaixão entre os homens. Expuseram-se para ajudar um amigo. Fazem-no quando e porque querem. Natal é quando o homem o quê? Pois…

Por isso, Pena, Martim Mariano, Pena não é de todo o único e mais acertado sinónimo para a palavra Compaixão, mas é um dos muitos possíveis, porquê? Porque a Pena é um dos variados sentimentos que saltitam por nós dentro e nos levam a assumir publicamente a necessidade de ajudar, de apoiar, de reparar, de contribuir e de auxiliar aqueles de quem efectivamente acabamos por ter pena, por ter dó, piedade, pena dos e pelos Outros. Damos sinais fortes de uma maturidade e consciência que nos permitem concluir facilmente que só podemos existir porque existem os outros, que, de uma forma ou de outra, são também responsáveis pela dinâmica daquilo que é a sociedade em que vivemos. Daquilo que foi e daquilo que há-de ser. É verdade que se trata de uma palavra cheia, que se quer conceito, que se sente no peito, que nos obriga a cortar tantas vezes a eito, a sacudir as bases do que temos como certo e errado.

MM_pequenoensaiosobreacompaixaoounao_1 Somos, nós os homens, seres verdadeiramente únicos neste planeta. Somos, nós os homens a “nata” da própria vida. E porquê? Essencialmente, porque temos, regra  geral (cá está ela novamente, a malandra), a capacidade que nos distingue dos demais habitantes da bola azul, a superior faculdade do pensamento. Esse Ás de trunfo é  o responsável por todos os restantes recursos dos quais nos servimos diária e consecutivamente.

 Infelizmente, aos pérfidos e nefastos efeitos do poder sobre os homens, estes acrescentaram o dinheiro e a ganância à equação e olha que duas para tocar a concertina,  logo elas que tão amigas são da soberba e do sobranceirismo, que se uniram, então, para transformar as vidas de uns em paraísos e de outros em misérias. E tem de se  reconhecer à maldade a persistência e a capacidade de trabalho.

 Para terminar, não me vou despedir com votos e profecias de fim de ano, nem com desejos bacocos e vazios dirigidos a pessoas que possivelmente nunca vi e que com  toda a certeza passarão bem sem os meus desejos seja lá do que for. Vou antes deixar-vos mais uma pergunta, pode ser? (esta não conta, claro está)

O que pesa mais no peito: aquilo que está por fazer, ou tudo aquilo que já foi feito? Desculpem-me, mas a esta não sei eu responder.

(Este texto foi originalmente publicado no site http://www.reportersombra.com)